O ALQUIMISTA

Ref.: "Alquimia" - R. Flamel - 1994

Imagina-se, geralmente, esse homem vivendo em permanente pesquisa do impossível, cercado de fornalhas ardentes, crocodilos empalhados, mochos sinistros e gatos embruxados. 

  Basta, entretanto, abrir os livros dos alquimistas, ver de que forma eles próprios representam seus fogões e seus laboratórios, para constatar que é enorme erro dar crédito às conjecturas do povo.

  O verdadeiro alquimista é um filósofo assaz instruído para atravessar as épocas mais agitadas e mais difíceis sem se emocionar.

  Ele é o depositário sagrado de toda essa ciência maravilhosa ensinada outrora nos santuários venerados da Índia e do Egito.

    É necessário que ele saiba dissimulá-la bastante, afim de escapar aos olhos invejosos do déspota clerical, que nele pressente um adversário, vigiando-o cuidadosamente.

   É quando a inquisição persegue impiedosamente qualquer resquício de saber, que o filósofo hermético mais dissimula seus escritos sob os símbolos e as misteriosas gravaras, não tanto, porém, que o observador consciencioso deixe de os compreender facilmente.

    Eis a origem das obscuridades voluntárias que se encontram nas obras dos adeptos.

  Que fazem eles das imensas riquezas que o conhecimento do segredo maravilhoso lhes pode proporcionar?

   Uma das regras elementares da ciência denominada oculta, ensina que, para ser mestre de qualquer coisa, é necessário considerá-la com a maior indiferença. 

    Aquele que deseja a Pedra Filosofal pelas riquezas que ela proporciona e para seu bem material tem inúmeras probabilidades de jamais possuí-la.

   Por isso a tradição esotérica nos descreve o alquimista simplesmente vestido e sempre em viagem, fazendo esmolas aos mendigos e aos reis - e assim se mostrando superior a estes últimos. 

    Se acreditarmos nas narrações dos contemporâneos, o alquimista Nicolas Flamel, possuidor de imensas riquezas, unicamente as empregava em fundações ou instituições pias ou de caridade, alimentando-se, bem como sua esposa, de legumes cozidos na mais grosseira vasilha de barro.

    Encontraremos estas ideias postas em prática até em pleno século XIX, no qual Cyliani (1832) tendo descoberto a pedra filosofal após 40 anos de trabalho (conforme conta em sua obra: Hermes Sem Véu), sempre viveu como pequeno burguês depois de ter tido a tentação de oferecer o precioso segredo ao rei Luiz XVIII; sua esposa o demoveu disso.

   Quanto ao mais, basta consultar a obra de Figuier para obter inúmeros detalhes a esse respeito.

   A doutrina ensinada pelos alquimistas é, em grande parte, filosófica. A experiência não deve se não servir de "controle" às teorias especulativas enunciadas nos livros os mais acatados.

  É por esse motivo que os adeptos denominam o conjunto de seus conhecimentos: Filosofia Hermética.

    A Filosofia Hermética professa a unidade de substância como base de todas as suas demonstrações.

    Existe um princípio universal esparso em todos os corpos, por mais diversa que seja a sua composição.

    É o conhecimento desse princípio universal e sua aplicação prática que constituem o segredo de grande obra e tornam diferentes ab initio as experiências alquímicas dos trabalhos dos químicos vulgares, os quais são considerados aprendizes de laboratório pelos filósofos herméticos.

    Essa força oculta recebeu múltiplos nomes nas obras alquímicas: é o Telesma, de Hermes; o Aour, dos Cabalistas; o Rouah Elohim, de Moisés; o Mercúrio Universal, dos alquimistas; a Luz Ästral, da Ciência Oculta; o Movimento, de Luiz Lucas, etc.

 

DE QUE MANEIRA SE PODE ESTUDAR ALQUIMIA

 Ref.: "Alquimia" - R. Flamel - 1994

    O primeiro livro que aconselhamos a ler em sua integridade, é aquele de Luiz Figuier intitulado A Alquimia e os Alquimistas.

    Conquanto o autor se coloque em decidida oposição à filosofia Hermética, seu livro é em suma muito bem feito e, salvo alguns erros de detalhe, vale a pena ser tomado em séria consideração. 

   A parte histórica é sobretudo notável e sua leitura leva fatalmente à evidente demonstração da existência da Pedra Filosofal. 

    É principalmente pela parte histórica que a obra de Luiz Figuier deve ser estudada. Em relação à parte teórica e ao simbolismo alquímico, encontrar-se-ão maiores detalhes no Tratado Elementar de Ciência Oculta, sob a epígrafe de Alquimia.

    É desde então que se poderá ler a obra de um verdadeiro alquimista e tomar conhecimento desse estilo bizarro e figurado.

    Aconselhamos vivamente a se tomar sob este ponto de vista a obra de Cyliani referida no capítulo precedente.

    Ver-se-á que mesmo no século XIX a língua simbólica era ainda corrente apesar da química contemporânea: poder-se-á igualmente deduzir pela narração dos 40 anos de sofrimentos e de pesquisas do alquimista, da dificuldade de obra empreendida.

     Encontrará este livro muito raro na Biblioteca Nacional.

   Enfim, a instrução elementar será completa se quiser ler a História da Filosofia Hermética, de Langret Du Fresnoy, e os autores descritos nos dois volumes da Biblioteca dos Filósofos Químicos, de Salmon (1753). 

    Existindo milhares de volumes sobre Alquimia, achamos de nosso dever nos limitarmos a citar os mais importantes.

    Aqueles que quiserem se tornar alquimistas praticantes, deverão tomar conhecimento de todos os mestres, principalmente das obras de Geber, Raymond Lulle, Basile Valentin, Paracelso e Van-Helmont.

    Para exercer a alquimia, é necessário conhecer e haver praticado, ao menos elementarmente, a química, da mesma forma que para a astrologia se torna preciso conhecer os elementos gerais da astronomia.

    A física, da qual a magia é a seção hermética, se ocupa das relações dos corpos e das forças entre eles, porém, sem se interessar quanto à decomposição ou à recomposição desses corpos.

    A física faz da fisiologia forças naturais. A química, pelo contrário, estabelece os órgãos elementares dos quais são compostos; depois organiza, com o auxílio da síntese, a entidade química que ela dessa forma decompôs. 

    O químico, portanto, faz a anatomia da matéria com aplicação biológica. Citemos um exemplo: Eis aqui água, água comum, tal cai do céu (corrente arterial da terra), ou tal qual corre nos rios (corrente venosa da terra).

    Se esquentarmos essa água, formaremos pela aliança do fogo e da água, o vapor, porém a água não é decomposta por isso.

    Fazemos aplicação da física. Da mesma maneira, se congelarmos essa água, faremos ainda experiência física.

    Mas, se por meio de uma pilha, com adjunção de um ácido, extinguirmos essa água e colocamos em dois provetes os dois elementos orgânicos que a constituem, o hidrogênio e o oxigênio, então praticamos experiência química.

    Da mesma forma, se, sempre com o auxílio do fogo extinto que é a eletricidade, reunimos bruscamente os dois átomos de hidrogênio e o átomo de oxigênio constituintes dessa água ressuscitamos o ser químico que havíamos antes decomposto e fazemos ainda química, não mais decomposição ou análise, porém, verdadeira ressurreição, reconstituição ou síntese.

    Estando estes primeiros elementos bem compreendidos, digamos algo sobre a maneira pela qual os alquimistas concebem os corpos que têm para estudar.

    Para o alquimista, existe uma força primária da qual tudo quanto vemos é uma condenação de diferentes graus. Essa força, que se denomina a alma do mundo, é derramada sobre a terra pelo sol.

    O sol, portanto, é para nós a soma de todas as forças, as forças enviadas pelos planetas não sendo mais do que modificações das colorações dinâmicas e da força solar. 

    Para ser claro, é necessário deixar de lado a origem dessa força solar e raciocinar como se o sol fora realmente a fonte de todas as forças da natureza. A terra, com tudo quanto se encontra sobre ela, é um sol arrefecido. 

    Para evitar inúteis complicações, o alquimista denomina substância tudo quanto é formado de sol resfriado e força a tudo quanto possa modificar a constituição ou os estados dessa substância. 

    Observemos que os químicos chegaram exatamente à mesma teoria, com Mendeeleef; eles consideram que todos os corpos químicos são concentrações mais ou menos intensas do hidrogênio, cuja densidade corresponde a 0,068 aproximadamente.

    Quanto mais pesado é um corpo, mais ele se afasta da força primitiva para se aproximar do frio da morte.

    O ouro que tem por densidade 19,5, o mercúrio metálico que tem por densidade 13,6 e, afinal, a platina que tem por densidade 21,5, são, portanto, corpos onde a matéria está extremamente condensada, o estado sólido em seu sentido mais absoluto. 

    Existe uma progressão matemática do hidrogênio até a platina, o que tem permitido determinar exatamente o lugar dos corpos químicos conhecidos, segundo sua constituição atômica, e descobrir corpos ainda ignorados, os quais aparecem na espiral de Mendeeleef.

    Retornando ao alquimista, todos os corpos terrestres são efetivamente da terra com maior ou menor influência solar.

    O alquimista busca o meio de aumentar a quantidade de sol em um corpo para desintegrá-lo, dilatá-lo ou evolucioná-lo. É isso que ele denomina a dissolução (solve).

    Quando procura o meio de aumentar a densidade da substância por um fermento, costuma o alquimista denominar esse processo a compreensão, a coagulação (coagula).

    A substância se apresenta ao alquimista sob 4 aspectos, partindo do estado onde há maior densidade da matéria.

    Esses aspectos são: o aspecto terra que os químicos chamam o estado sólido; o aspecto água, que os químicos denominam o estado líquido; o aspecto ar, que os químicos denominam o estado gasoso e o aspecto fogo, que os químicos chamam o estado da força, e os alquimistas estado solar.