Ref.: "Fundamentos da Química" - Feltre, R - 2005
A Química começou com o homem primitivo, quando ele aprendeu a produzir o fogo, a cozer seus alimentos, a fazer tintas para se pintar, a usar plantas como remédio para curar doenças, etc. Mais adiante, o homem aprendeu a fazer o pão, a produzir bebidas alcoólicas, a curtir o couro, etc. No começo da era cristã, surgiram os chamados alquimistas, que sonhavam em descobrir o “elixir da longa vida” e processos para transformar metais comuns em ouro. Desde seu começo, a Química nunca parou de evoluir. Os químicos modernos procuram conhecer os materiais da Natureza; tentam transformá-los em produtos mais úteis à nossa vida e procuram uma explicação para as transformações que ocorrem com esses materiais.
Ref.: "Química Geral" - Russel, J.B. - 1982
As origens da Química são quase tão antigas como a humanidade. Observações casuais como o fogo consumindo a madeira, transformações de aspecto, cheiro e gosto da carne deteriorada, ou, transformações na cor e na consistência de um pedaço de argila cozida próxima ao fogo. Simples observações como estas foram os primeiros passos, as primeiras atividades “pré-químicas”.
O cobre metálico era, sem dúvida, conhecido na Idade da Pedra, mas devido à sua escassez ele foi considerado, provavelmente, como sendo uma mera curiosidade. Porém, minérios de cobre eram muito mais abundantes e o homem primitivo deve ter aprendido acidentalmente que, se algumas pedras azuis bonitas fossem aquecidas ao fogo, se transformavam em cobre metálico. O grande avanço aconteceu ao redor de 4.000 a.C., quando se verificou que aquecendo minério de cobre, sempre se produzia o cobre metálico. O bronze, uma liga (combinação metálica) de cobre e estanho, foi, provavelmente, a primeira produzida acidentalmente, quando os minérios de cobre e estanho foram simultaneamente aquecidos ao fogo. O cobre era bastante mole para a confecção de armaduras e pontas de lança, mas o bronze não. A cerca de 3.000 a.C. teve início a Idade do Bronze e a civilização primitiva se transformou.
Para abreviar uma longa história, cobre e bronze deu caminho ao ferro e ao aço, sendo este último uma liga de ferro-carbono. Os metais foram muito importantes na civilização primitiva e a prática da metalurgia propiciou uma riqueza de informações químicas. Os egípcios, por exemplo, aprenderam a obter muitos metais diferentes de seus minérios e, de acordo com alguns especialistas, a palavra química é derivada de uma palavra antiga khemeia, a qual pode estar relacionada com o nome que os egípcios davam ao seu próprio país, Kham.
Contudo, alguns especialistas acreditam que química se origina da palavra grega chyma, que significa “fundir” ou “moldar um metal”.
Por outro lado, porém, as realizações “químicas” dos antigos não foram limitadas à metalurgia. Pelo ano 3.000 a.C., a arte de fazer vidro estava florescendo no Egito, assim como a técnica de manufatura de corantes, pigmentos, gemas artificiais e bebidas alcoólicas. A pólvora era produzida e usada pelos habitantes primitivos da região que corresponde hoje a China e Índia.
Não foi se não por volta do ano 600 a.C. que os primórdios da teoria química surgiram. Tales, filósofo grego, propôs que toda alteração química era meramente uma alteração no aspecto de uma substância fundamental ou elemento. Mais tarde, Empédocles, que viveu por volta do ano 450 a.C., propôs a existência de quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Esta idéia foi ampliada pelo grande filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), que considerava que cada elemento resultava da combinação de duas das quatro qualidades fundamentais: quente, frio, úmido e seco. Somente quatro das seis combinações possíveis eram permitidas, segundo Aristóteles. Assim, quente e seco podiam se combinar para formar o fogo, quente e úmido para formar o ar, frio e seco para formar a terra, e quente e úmido para formar a água.
Os filósofos gregos levantaram outra importante questão: era a matéria contínua ou descontínua? Se a matéria fosse de natureza contínua, ou de natureza gelatinosa, então qualquer pedaço dela podia ser fragmentada, em pedaços cada vez menores, e esta divisão e subdivisão poderia ocorrer ilimitadamente. Se, por outro lado, fosse descontínua, ou granular, então a divisão sucessiva de qualquer substância poderia ocorrer somente até que os menores grânulos indivisíveis fossem obtidos. Dois filósofos gregos, Leucipo e Demócrito, que viveram por volta do ano 400 a.C., foram os primeiros partidários da descontinuidade. Demócrito denominou os últimos grânulos indivisíveis, menores, de átomos (“indivisíveis”) e é de onde diretamente deriva a palavra átomo. Assim, o conceito de que a matéria não é indefinidamente subdivisível é conhecida como atomismo.
Os Alquimistas
A arte da khemeia floresceu nas civilizações egípcia e grega primitivas. Nestes períodos as reações químicas pareciam tão fascinantes e misteriosas que elas foram imaginadas como tendo ilações religiosas, místicas ou ocultas. Um dos maiores desafios defrontados pela khemeia foi o da transmutação, numa palavra empregada para o processo muito procurado que transformaria um elemento em outro - por exemplo, chumbo abundante e barato em ouro raro e caro. Depois do auge da civilização grega, a khemeia e a procura da receita espetacular da transmutação foram mantidas vivas pelos romanos, os persas e mais tarde pelos indus, chineses e árabes. Os árabes mantiveram a khemeia viva até cerca de 1100 d.C. A palavra khemeia tornou-se em árabe alkimiya (o prefixo al significa "o" em árabe) e mais tarde, desta palavra, derivou a palavra portuguesa alquimia.
O período da alquimia é, às vezes, indicado como o intervalo que abrange os anos de 300 a.C. a 1500 d.C. A alquimia árabe foi importante durante o intervalo dos anos 600 d.C. a 1100 d.C., aproximadamente. O mais famoso dos alquimistas árabes foi um homem conhecido hoje como "Geber", embora seu nome real fosse Jabir Ibn-Hayyan, que viveu por volta do ano 800 d.C. Geber fez muitos esforços para produzir o ouro; finalmente convenceu-se que se o mercúrio, que é um metal, e o enxofre, que é de cor dourada, fossem misturados adequadamente, resultaria o ouro. Os gregos pensavam que um pó coadjuvante da transmutação deveria ser necessário para fazer o ouro, e eles denominaram este pó xerion, palavra grega que significa "seco". Em árabe esta palavra tornou-se al-iksir, da qual foi derivada nossa palavra elixir. Desnecessário dizer que Geber jamais encontrou al-ikisir, porém ele despendeu muito de sua vida nesta procura.
Segundo as cruzadas cristãs, que começaram em 1096, o contato entre o leste e o oeste tornou-se mais frequente e o conhecimento da alquimia começou a infiltrar-se na Europa Ocidental. A alquimia medieval estava intimamente entrelaçada com a numerologia, astronomia, misticismo e a magia negra, e o seu ímpeto se dirigia à descoberta de um método de "manufaturar" o ouro. Os alquimistas eram obsessivos na procura do elixir de Geber, o qual eles finalmente rebatizaram como a pedra filosofal (ciência natural foi outrora chamada filosofia natural).
Paracelsus e a iatroquímica
As forças da alquimia sofreram uma mudança logo após 1500, principalmente através do trabalho de um suíço, Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim (1493-1541). Ele é mais conhecido pelo seu pseudônimo Paracelsus, que ele mesmo escolheu e que significa "melhor que Celsius" (Celsius foi um antigo romano que escreveu sobre medicamentos e as artes médicas). Paracelsus utilizou métodos da alquimia a fim de descobrir medicamentos que curariam enfermidades. Ele procurou a pedra filosofal principalmente porque pensava que ela pudesse funcionar como o "elixir da vida", uma substância que prolongaria a vida e a saúde indefinidamente. Durante sua existência, Paracelsus alcançou muita reputação, por toda Europa, como manufaturador de drogas e médico. Muitos dos seus medicamentos para as enfermidades parecem, pelos padrões de hoje, serem drásticos e mesmo mortais. Por outro lado, ele aparentemente aprendeu (por tentativa e erro), que doses mínimas de substâncias venenosas eram algumas vezes benéficas para a cura de certas doenças, um fato que hoje é bem aceito. Assim, por exemplo, Paracelsus utilizou em suas preparações substâncias contendo chumbo, mercúrio e arsênio. Paracelsus acreditava que toda matéria era composta de três "princípios", enxofre, mercúrio e sal, os quais eram cada um, compostos de proporções variáveis dos quatro elementos de Aristóteles: terra, ar, fogo e água. Obs.: para Paracelsus as palavras enxofre, mercúrio e sal tinham um significado mais amplo que o de hoje. Paracelsus morreu em 1541, provavelmente vítima de auto-envenenamento acidental. O período de aproximadamente 1500-1650 é algumas vezes conhecido como a era da iatroquímica ou química médica.
Boyle e o período flogístico
Durante o século dezessete as atenções estavam voltadas para o comportamento e as propriedades dos gases. Um químico irlandês, Robert Boyle, descobriu a relação simples que existe entre o volume de um gás e sua pressão. Esta relação é conhecida em todo o mundo como Lei de Boyle. Ele também mostrou que o som não pode ser transmitido no vácuo e que o ar é necessário para a vida animal. Seu trabalho com diferentes gases e líquidos conduziu ao desenvolvimento de muitas técnicas novas experimentais engenhosas, que se vinculam às medidas de alta precisão. O interesse de Boyle pela teoria química finalmente o impeliu a escrever sua obra mais famosa, The Sceptical Chymist, um livro publicado em 1661 (o prefixo em alchemy foi eliminado por Boyle e o campo ficou desde então, conhecido como química).
O interesse pelos gases, durante o século dezessete e começo do dezoito, conduziu a uma teoria importante, embora errônea, a respeito da natureza da combustão e da corrosão. Esta foi a teoria do flogístico. Em 1669 o alemão J. J. Becher desenvolveu o conceito grego de que, quando ocorre combustão, alguma coisa é liberada, e um outro alemão, G. E. Stahl, posteriormente chamou esta "alguma coisa" de flogístico. Stahl acreditava que as substâncias combustíveis fossem ricas em flogístico e que a combustão fosse simplesmente a perda desta substância misteriosa. Além disso, a corrosão ou enferrujamento dos metais foi considerada como sendo uma perda lenta de flogístico pelo metal. Stahl nunca resolveu o problema de ganho de peso que os materiais apresentam quando se corroem. Alguns químicos, na verdade, sugeriram que o flogístico tinha um peso negativo, porém isto só causou problema quando se tentou explicar por que, por exemplo, um pedaço de madeira perde peso quando é queimada.
Lavoisier e a era moderna
Em 1743 nasceu o químico francês A. L. Lavoisier. Ele também se interessou pelo processo da combustão; porém, diferentemente da maioria de seus predecessores, cuidadosamente planejou seus experimentos, de modo que podia com precisão pesar ambos, os combustíveis e seus produtos. Lavoisier prosseguiu queimando tudo que pudesse ter em suas mãos, mesmo um diamente, e foi capaz de mostrar que, quando uma substância se corroe em um recipiente fechado, o ganho resultante em peso é compensado por uma perda correspondente, em peso, do ar no recipiente. Desse modo, raciocinou Lavoisier, quando um metal se corrói, alguma coisa do ar penetra ou se combina com o metal. Lavoisier também explicou corretamente que a aparente perda de peso que acompanha a queima de uma substância, como a madeira, resulta meramente do fato dos produtos de combustão serem gasosos. Lavoisier afirmou que se os pesos de todas as substâncias envolvidas, de uma reação química, são consideradas, não há no balanço final perda ou ganho de peso. Esta generalização é na verdade uma versão prévia de um dos fundamentos da química, a lei da conservação da massa.
Lavoisier é geralmente conhecido como o introdutor da era moderna da química. Em 1789 ele publicou um compêndio importante, "Tratado Elementar de Química". Logo após, muitas das incertezas sobre elementos, compostos, átomos e transformações químicas tornaram-se, ao menos empiricamente, resolvidas e a marcha para a frente, para novas descobertas experimentais e teóricas, acelerou--se bastante.
